quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

O governo de Raúl Castro


Escolhido novo presidente de Cuba neste domingo (24), Raúl Castro em seu primeiro discurso prometeu reduzir a estrutura do Estado, melhorias na economia e continuidade política.

A renúncia de Fidel Castro abre caminhos para que seu irmão implemente reformas no país. Em um dos principais trechos de seu pronunciamento, Raúl prometeu eliminar o “excesso de proibições que já não têm sentido”.

Na opinião da cúpula do PT e do governo brasileiro, Raúl deverá dividir poder com pelo menos outros três dirigentes cubanos. São eles: Carlos Lage, ministro da economia; Felipe Pérez Roque, ministro das relações exteriores, e Ricardo Alarcón, presidente da Assembléia Nacional. No entanto, mais importante do que a função exata que cada um dos três terá na Cuba pós-Fidel é a avaliação de Lula e colegas petistas que acreditam que Raúl exercerá o poder de forma mais descentralizada do que o irmão.

Mas há quem duvide de tanta autonomia. Para muitos, Fidel Castro continuará governando até os últimos dias de sua vida, pois continuará como membro do Parlamento e Raúl já reiterou a sua convicção no Partido Comunista Cubano e no socialismo e acrescentou que poderia continuar a consultar Fidel em decisões de Estado.

“Assumo a responsabilidade que me foi confiada com a convicção de que (...) Comandante e Chefe da Revolução Cubana é único, Fidel é Fidel, como bem o sabemos, Fidel é insubstituível”, afirmou o novo chefe de Estado cubano.

Texto da renúncia de Fidel Castro

Segue abaixo a mensagem completa de Fidel Castro, onde o presidente cubano anuncia que deixará o cargo:

"Prometi a vocês na sexta-feira, 15 de fevereiro, que na próxima reflexão abordaria um tema de interesse para muitos compatriotas. A mesma adquire desta vez a forma de mensagem.

Chegou o momento de postular e escolher o Conselho de Estado, seu presidente, vice-presidentes e secretário.

Desempenhei o honroso cargo de presidente ao longo de muitos anos. Em 15 de fevereiro de 1976 foi aprovada a Constituição Socialista por voto livre, direto e secreto de mais de 95% dos eleitores.

A primeira Assembléia Nacional foi constituída em 2 de dezembro daquele ano e elegeu o Conselho de Estado e sua Presidência.
Antes, tinha exercido o cargo de primeiro-ministro durante quase 18 anos. Sempre dispus das prerrogativas necessárias para levar adiante a obra revolucionária com o apoio da imensa maioria do povo.

Sabendo de meu estado grave de saúde, muitos no exterior pensavam que a renúncia provisória ao cargo de presidente do Conselho de Estado, que deixei nas mãos do primeiro-vice-presidente, Raúl Castro Ruz, em 31 de julho de 2006, fosse definitiva.O próprio Raúl, que adicionalmente ocupa o cargo de Ministro das FAR (Forças Armadas Revolucionárias) por méritos pessoais, e os demais companheiros da direção do partido e do Estado foram resistentes a me considerarem afastado dos meus cargos, apesar do meu estado precário de saúde.

Minha posição era incômoda frente a um adversário que fez tudo o imaginável para
se desfazer de mim e ao qual não queria agradá-lo.

Mais adiante, pude recuperar o controle total da minha mente, a leitura e meditar muito, devido ao repouso. Tinha forças físicas suficientes para escrever por longas horas, o que fazia durante a reabilitação e os programas de recuperação. Um elementar bom senso me indicava que essa atividade estava a meu alcance.Por outro lado, sempre me preocupei, ao falar da minha saúde, em evitar ilusões de que, no caso de um agravamento do quadro adverso, trariam notícias traumáticas a nosso povo no meio da batalha.

Prepará-lo para minha ausência, psicológica e politicamente, era minha primeira obrigação após tantos anos de luta.

Nunca deixei de destacar que se tratava de uma recuperação 'não isenta de riscos'. Meu desejo sempre foi cumprir o dever até o último momento. É o que posso oferecer.A meus compatriotas, que fizeram a imensa honra de me eleger recentemente como membro do Parlamento, em cujo âmbito devem ser adotados acordos importantes para o destino de nossa Revolução, comunico a vocês que não aspirarei nem aceitarei - repito - não aspirarei nem aceitarei o cargo de Presidente do Conselho de Estado e Comandante-em-Chefe.

Em breves cartas dirigidas a Randy Alonso, diretor do programa 'Mesa Redonda' da televisão nacional, que foram divulgadas por minha solicitação, foi incluídos discretamente elementos da mensagem que hoje escrevo, e nem sequer o destinatário das mensagens conhecia meu propósito.
Confiei em Randy porque o conheci bem quando ele era estudante universitário de Jornalismo, e me reunia quase todas as semanas com os principais representantes dos alunos, que já eram conhecidos como o coração do país, na biblioteca da ampla casa de Kohly, onde se abrigavam. Hoje, todo o país é uma imensa universidade".

Veja a cronologia da carreira política de Fidel

1º de janeiro de 1959: O ditador Fulgêncio Batista deixa Cuba e revolucionários liderados por Fidel Castro tomam o poder.
Fevereiro de 1960: O vice-primeiro-ministro soviético Anastas Mikoyan visita Cuba; firma acordos de comércio de açúcar e petróleo, os primeiros de muitos acordos em mais de 30 anos.
Junho de 1960: Cuba nacionaliza refinarias de petróleo norte-americanas por recusarem a refinar petróleo soviético. Quase todos os outros negócios dos Estados Unidos na ilha são expropriados antes de outubro.
Outubro de 1960: Washington proíbe exportações a Cuba, com exceção de comida e remédios.
16 de abril de 1961: Castro declara Cuba Estado socialista.
17 de abril de 1961: 1.297 exilados cubanos apoiados pela CIA (agência de inteligência dos EUA) invadem a Baía dos Porcos. Ataque fracassa dois dias depois.
22 de janeiro de 1962: Cuba é suspensa da OEA (Organização dos Estados Americanos); e reage pedindo uma revolta armada em toda a América Latina.
7 de fevereiro de 1962: Washington proíbe todas as importações cubanas.
Outubro de 1962: O presidente norte-americano John F. Kennedy (1961-63) ameaça Cuba para forçar a remoção de mísseis nucleares soviéticos; dias depois os soviéticos concordam em retirar as armas e Kennedy decide não invadir Cuba.
Março de 1968: Governo de Castro assume praticamente todos os negócios privados do país, menos pequenas propriedades agrícolas.
Julho de 1972: Cuba se une ao Comecon (mercado comum do antigo bloco socialista, liderado pela União Soviética).
Abril de 1980: Governo declara que cubanos podem deixar o país. Começa crise de refugiados; cerca de 125 mil pessoas abandonam Cuba até setembro de 1980.
Dezembro de 1991: Colapso da União Soviética acaba com ajuda a Cuba, cuja economia cai 35% até 1994.
Agosto de 1994: Castro declara que não vai impedir saída de cubanos que tentam deixar país; cerca de 40 mil pessoas se dirigem aos EUA por mar. EUA e Cuba firmam acordo expandido de migração.
Outubro de 1997: Partido Comunista de Cuba realiza 50º Congresso; Castro reafirma seu irmão mais novo, Raúl Castro, como sucessor.
Janeiro de 1998: Papa João Paulo 2º visita Cuba.
23 de junho de 2001: Castro tem um leve desmaio durante discurso baixo sol.
16 de dezembro de 2001: Embarcações de milho e frango congelado chegam ao porto de Cuba, representando as primeiras vendas diretas de comida norte-americana ao país em quase 40 anos.
6 de março de 2003: Parlamento cubano elege Castro para seu sexto mandato de cinco anos como presidente do Conselho de Estado, órgão supremo do governo cubano.
18 de março de 2003: Governo cubano anuncia medidas contra dissidentes que acusa de trabalhar com oficiais norte-americanos para minar o sistema socialista. Setenta e cinco dos críticos mais radicais de Fidel são sentenciados a penas de seis a 28 anos de prisão.
20 de outubro de 2004: Castro tropeça e cai após um discurso e quebra o braço direito.
Novembro de 2004: Cuba liberta seis dissidentes políticos, incluindo o escritor Raul Rivero, em um movimento visto como tentativa de ganhar apoio da União Européia.
2 de fevereiro de 2005: Castro chama o presidente norte-americano, George W. Bush, de 'perturbado', em resposta à declaração dos EUA de que Cuba seria um berço de tirania.
15 de junho de 2006: Raúl Castro diz que o Partido Comunista permanecerá no controle de Cuba em caso de mudança de líder.
31 de julho de 2006: Fidel Castro cede temporariamente poderes a Raúl Castro para passar por uma cirurgia gastrointestinal.
13 de agosto de 2006: Castro completa 80 anos. As celebrações são adiadas para dezembro para que ele possa se recuperar.
2 de dezembro de 2006: Não comparece a uma parada militar que comemorava o 50º aniversário da Revolução Cuba e não aparece nos festejos de seu aniversário.
28 de março de 2007: Publica uma série de ensaios chamada "Reflexões de um Comandante-Chefe", em que trata de sua atuação na política internacional, mas continua afastado.
18 de junho de 2007: A ex-combatente, cunhada de Fidel e mulher de Raúl Castro, Vila Espin, morre aos 77 anos.
13 de agosto de 2007: Fidel completa 81 anos, mas não comparece às comemorações.
14 de outubro de 2007: Castro faz um telefonema transmitido ao vivo em Cuba a seu aliado Hugo Chávez, que diz a ele: "Você nunca morrerá".
18 de dezembro de 2007: Castro divulga ensaios em que afirma não querer o poder eterno e não pretender "obstruir o caminho para os mais jovens". Repete o tema dez dias depois, em seção parlamentar.
20 de janeiro de 2008: Castro é reeleito ao parlamento, mas deixa a possibilidade de se manter como presidente em aberto.
19 de fevereiro de 2008: Fidel Castro anuncia que não voltará a assumir o cargo de presidente de Cuba.


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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

sexta-feira, 18 de maio de 2007

CULTURA TRANSVIADA

A princípio – “não vou assistir essa porcaria dessa vez”. Daí passam alguns dias e ... “quem será que vai sair esta semana?”, “você viu Fulano dando em cima de Ciclana?”, “hoje vai ter o maior quebra-pau!”, “não posso perder o Big Brother, hoje vai ser bom!”.

A pobreza cultural que assola a televisão brasileira tem feito os telespectadores perderem a noção e esquecerem o que é programação de qualidade. A falta de opção acaba obrigando-os a ser complacente com as porcarias exibidas em horário nobre. Mas será que essa “pobreza” incomoda os telespectadores?

A cada dia que passa vemos mais pessoas aderindo ao grupo dos fanáticos por reality shows. E, detalhe, o que elas gostam é daqueles programas mais comuns e corriqueiros, aqueles que se assemelham com a realidade vivida pelos indivíduos que os assistem. Uma experiência interessante foi realizada na Europa. Criaram um reality show onde os participantes eram cidadãos intelectuais de alto nível, aqueles populares “cdf’s”. Não deu outra, o programa praticamente saiu do ar antes mesmo de entrar, não teve audiência nenhuma. Ninguém gostou da forma como as pessoas se comportavam, pensavam e agiam. Eram certinhos e inteligentes demais. É, está comprovado, o programa que povão quer assistir é aquele em que o protagonista, normalmente, apresenta-se como um cidadão médio, gente comum que está disposta a atuar como uma estrela das telas e a mudança de fazer pública sua vida privada. O sujeito anônimo da grande massa se converte numa “estrela” já que uma das funções dos meios de comunicação é ‘criar status’.

É enorme a lista dos reality produzidos no Brasil, ou melhor ‘copiados’ do exterior e ‘colados’ no Brasil. Vamos lembrar alguns: Casamento a Moda Antiga, Casa dos Artistas, Big Brother Brasil, No Limite, O Aprendiz... chega! Eram só alguns...

A presença dos meios de comunicação de massa como mediação necessária da realidade social, política, econômica, cultural nos acostumou a uma forma de existência desta ‘realidade’ que é intimamente dependente da sua visibilidade midiática. Todos sabemos que aí se pauta o que vem a ser de interesse comum, público. Esta esfera pública midiática já é parte de nosso cotidiano e nos é diariamente entregue em domicílio, penetrando em nossas casas, espaços tradicionalmente privados, e armando-se como intermediária que conecta o público e o privado.