sexta-feira, 18 de maio de 2007

CULTURA TRANSVIADA

A princípio – “não vou assistir essa porcaria dessa vez”. Daí passam alguns dias e ... “quem será que vai sair esta semana?”, “você viu Fulano dando em cima de Ciclana?”, “hoje vai ter o maior quebra-pau!”, “não posso perder o Big Brother, hoje vai ser bom!”.

A pobreza cultural que assola a televisão brasileira tem feito os telespectadores perderem a noção e esquecerem o que é programação de qualidade. A falta de opção acaba obrigando-os a ser complacente com as porcarias exibidas em horário nobre. Mas será que essa “pobreza” incomoda os telespectadores?

A cada dia que passa vemos mais pessoas aderindo ao grupo dos fanáticos por reality shows. E, detalhe, o que elas gostam é daqueles programas mais comuns e corriqueiros, aqueles que se assemelham com a realidade vivida pelos indivíduos que os assistem. Uma experiência interessante foi realizada na Europa. Criaram um reality show onde os participantes eram cidadãos intelectuais de alto nível, aqueles populares “cdf’s”. Não deu outra, o programa praticamente saiu do ar antes mesmo de entrar, não teve audiência nenhuma. Ninguém gostou da forma como as pessoas se comportavam, pensavam e agiam. Eram certinhos e inteligentes demais. É, está comprovado, o programa que povão quer assistir é aquele em que o protagonista, normalmente, apresenta-se como um cidadão médio, gente comum que está disposta a atuar como uma estrela das telas e a mudança de fazer pública sua vida privada. O sujeito anônimo da grande massa se converte numa “estrela” já que uma das funções dos meios de comunicação é ‘criar status’.

É enorme a lista dos reality produzidos no Brasil, ou melhor ‘copiados’ do exterior e ‘colados’ no Brasil. Vamos lembrar alguns: Casamento a Moda Antiga, Casa dos Artistas, Big Brother Brasil, No Limite, O Aprendiz... chega! Eram só alguns...

A presença dos meios de comunicação de massa como mediação necessária da realidade social, política, econômica, cultural nos acostumou a uma forma de existência desta ‘realidade’ que é intimamente dependente da sua visibilidade midiática. Todos sabemos que aí se pauta o que vem a ser de interesse comum, público. Esta esfera pública midiática já é parte de nosso cotidiano e nos é diariamente entregue em domicílio, penetrando em nossas casas, espaços tradicionalmente privados, e armando-se como intermediária que conecta o público e o privado.